sábado, 27 de novembro de 2010







..."Em Domingos Pinho, como em todos os criadores de excepção, sensibilisam-nos igualmente o seu ofício de pintor, o esplêndido domínio dos seus meios em diversas formas de expressão e simultâneamente uma poética que nos vai revelando em cada uma das fases do seu trabalho através das rupturas  e da continuidade de um estilo, uma imensa originalidade. O seu olhar e o seu pincel captam o mundo com uma acutilância de todos os sentidos despertos e ao mesmo tempo com a abertura ao sonho e aos tesouros do imaginário, criando a forma em função do pensamento, pensando em função da forma.
A sua realidade é a realidade vista, amada, sentida, imaginada. O Cosmos é musical, entoa a sua própria música que o pintor transforma nos coloridos sortilégios de uma paleta sensível."...

Fernandes, Maria João (2000) - Visões nómadas, a pintura de Domingos Pinho






..."Na verdade, vem sendo também pela reinvenção da pintura que os mais evoluídos pintores de hoje ensaiam o horizonte possível duma nova arte e pensamento estético.O caso singular de Domingos Pinho comfirma-o em maturidade, rara de encontrar pelas galerias portuguesas. Em consonância à actualidade internacional, poderíamos englobá-lo na referida órbita e entendê-lo no plano único de alguém cuja evolução e solidão individual têm podido (e sabido) ser comunhão no mais exigente panorama artístico do nosso tempo universal.

Pernes, Fernando (1988) - Domingos Pinho - O silêncio e o grito






..."A esta outra figuração do artista não será estranha a mudança verificada na sua circunstância vital com a aproximação à natureza e o abandono da cidade, Gerês e Porto respectivamente, com o que a cidade representa de estímulos que são outros tantos artefactos."...
..."A visão da natureza, as grandes visões da natureza, nunca deixam de estar imbuídas de um sentimento telúrico, nem de um espírito mais ou menos imbuído de valores panteístas. Domingos Pinho não é excepção. A natureza nele é uma grande unidade.Por outro lado e como acontecia com as outras formulações em que soube concretizar o seu trabalho, o pintor mostra-se um profundo conhecedor dos segredos do ofício, bem como um profundo conhecedor de certas propostas estéticas recentes com que soube sintonizar e, não se esqueça, pessoalizar."
..."Realmente a visão da natureza de Domingos Pinho não é uma visão bucólica, mas uma visão toda ela marcada por um pathos sombrio. Este carácter sombrio constata-se no cromatismo adoptado e igualmente na índole dos efeitos lumínicos transmitidos à sua pintura.Pathos assinalado também através das características das linhas e das manchas e, ainda, nos índices matéricos que mostra.. Mas este espírito sombrio que ressalta dos trabalhos não parece traduzir um receio ante a natureza mas sim um sentimento de enigma ante uma grandeza cósmica que nunca deixa de sugerir a sua grandiosidade e a sua majestade."...

Joaquim Matos Chaves - 1990






..."Eu creio, firmemente, que Domingos Pinho alcançou a sua Ítaca e que nela opera a reinvenção da terra. Esta sua Ítaca, que é o Gerês, lhe está a fornecer, afinal, o encontro consigo mesmo, porque antes de ele a esta pátria chegar já a mesma onticamente se lhe revelava, povoando o imaginário da sua actividade pictórica inicial, caracterizada, então, por fortes tónicas expressionistas e figurações carregadas de uma magia primitiva, como que recuperadoras duma solidão ou noite universal, senão mesmo como formas incipientes de afirmação da vida."...

Teixeira, Ramiro (1992) - Domingos Pinho - aventura e descoberta

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

DOMINGOS PINHO E O GERÊS























"Domingos Pinho passou a dividir a sua vida entre o Porto e a serra do Gerês e realizou muitas obras de outro teor, mas igualmente inspiradas na floresta, nos seus ritmos e nos seus esplendores discretos de luz. Um movimento expressionista de gesto amplo e vigoroso caracteriza o seu Gerês, onde penetra para o conhecer do interior, ao contrário de Artur Loureiro, que o observa a contida distância. Na sua obra, Domingos Pinho transporta para as telas a experiência do lugar, a solidez vertical das árvores que transfigura em estrutura linear, a densidade de troncos espessos que converte em matérias finamente tratadas, a textura da madeira que coabita com a dos papéis e tecidos do seu atelier. A paisagem é uma interpretação do natural, é do domínio da cultura intelectual, como o foram outrora as composições mitológicas e a pintura de história em cujos argumentos se envolvia a paixão humana. O tratamento contemporâneo da paisagem arrastou a concepção de que o género não lida com o inanimado mas constitui o exercício de um olhar atento. Estamos perante um pintor vindo da escola naturalista do século XIX (Artur Loureiro) e um pintor afirmado na segunda metade do século XX - um pinta olhando de frente para o lugar, o outro está dentro do lugar; o primeiro, pinta à distância da sua técnica representativa, o segundo, está dentro da pintura."

Castro, Laura (2007)-Paisagens; Edições Afrontamento